domingo, 16 de janeiro de 2011

Are You Lonesome Tonight?

He got lucky, got lucky one time
P.J. Harvey, "A Perfect Day Elise"




          Ao primeiro gole, senti uma náusea de intensidade incomum para quem iniciava a noite. Era a primeira vez que bebia absinto. Por um instante fiquei sem saber se considerava a bebida doce ou amarga, dúvida que se fortaleceu à medida que o gosto alcóolico do absinto se pegava à minha língua. A única imagem que se formava em meus pensamentos, reforçando o nojo, era o de água guardada em tóneis de madeira apodrecida.
          Agora a vodka, senhoras e senhores, a vodka, disse uma voz de acento duro e risível, cuja origem não podia ser precisado. Ato contínuo, um barman jovem, de olhos de um azul límpido, o crânio reluzente, correu o balcão do pub, servindo vodka onde antes fora bebido o absinto.
          A vodka, sim, a vodka, a voz gritou uma segunda vez. Com o canto dos olhos percebi que todos viravam o copo com um único gole. Alguns garotos, após tragarem a bebida, bateram os seus copos com força contra o balcão e gritaram palavras de encorajamento. Algumas meninas começaram a rir. A porta do pub se abriu e uma rajada de vento frio e úmido cortou a densidade do ar esfumado. Foi possível ver a rua – gelada, difusa e amarela como se contemplada pelo prisma de uma garrafa de uísque. Era a chegada de mais um grupo de meninos e meninas, todos com idade entre dezoito e vinte anos, trazidos por um rapaz que, embora não chovesse ou nevasse, perambulava pelas ruas da cidade com um guarda-chuvas vermelho.
          Agora o gin, bons amigos. O barman tornou a servir os copos que estavam sobre o balcão. Houve mais um grito de ordem. No instante seguinte, todas as cabeças caíram para trás como que atingidas por um único e simultâneo golpe fatal. Renovados gritos e risadas. Lembro-me de escutar alguém correr até o banheiro. A náusea, agora uma reação corporal que parecia se tornar mais inflamável após cada bebida experimentada, revolvia-se cada vez que eu puxava o ar para dentro dos pulmões. Os olhos lacrimejavam, a garganta fechava-se como se o seu interior tivesse sido soldado por chumbo fervente, o gesto que levava o copo à boca era de um tremor que se redobrava como ondas sonoras de um sino a rimbombar dentro de uma catedral abandonada. Quis deitar a cabeça em algum lugar porque às vezes nada é mais doloroso do que ter uma cabeça; momentos em que tudo parece não apenas convergir, mas existir dentro da cabeça: o pensamento, a dureza trôpega com que cada fonema abre caminho em meio à embriaguez, o coração transformado em algo pantanoso, lodoso, como se a tarefa de limpá-lo e lavá-lo fosse inútil como limpar e lavar uma pedra tomada pelo musgo, pela inércia.
          Não sei se consigo mais, disse a menina ao meu lado. Como se o próprio ar respirado houvesse adquirido a densidade de algo semi-líquido, com dificuldade movi a cabeça em sua direção. Ela tinha os olhos castanhos, exautos, também lacrimejantes. Vestígios de sono e de sonho que, a exemplo de uma bandeira hasteada há um tempo incalculável, ia se desgatando, embora ainda tremulasse quando o vento soprava mais forte. De todo modo, no momento seguinte ao que passei a observá-la com mais calma, percebi que um tumor de cansaço crescia para além da pálida massa de carne que era o seu rosto.
          Agora a tequila, sim, antes da maratona, e agora às ruas, bons amigos. Há uma cidade que precisa ser pisoteada, ordenou a voz com fúria redobrada. Mais uma vez as cabeças caíram para trás, decepadas por um golpe simultâneo. Um grupo de meninos passou a bater os copos contra o balcão com estridência, ruído se sobrepondo à ruído até adquirir uma existência palpável e tornar o ar mais denso e ainda mais sanguíneo, provocando ondas de uma náusea doce que avançava pela garganta. Alguém escancarou a porta do pub e a cidiade, revisitada pelo definitivo vitral da embriaguez, pareceu ainda mais turva e dourada. Então todos saíram. A primeira rajada de vento, responsável pela sensação térmica que se aproximava do zero, causou vômito a alguns garotos afobados. Outros rapazes, na tentativa de conservarem o equilíbrio, pisavam com mais força contra o chão. Com ares de batedor, o rapaz de guarda-chuva vermelho guiava o grupo na direção das pontes e do castelo. A menina de olhos lacrimejantes nos acompanhava com um riso incapaz de disfarçar o tumor que crescia por trás de seu rosto. Passada a euforia primeira, foi possível ouvir o curso do rio, nítido e assustador como fosse dado a um homem a capacidade de ouvir o próprio sangue.

***

          Eu soube que durante a noite a temperatura fora negativa porque, mais de uma vez durante a madrugada, despertei apenas para constatar se o aquecedor ainda funcionava. Houve um momento em que, mais desperto, caminhei até a janela e descerrei a cortina, mas não foi possível ver a rua: um bafo úmido e branco transformara o vidro numa superfície opaca. O que se via era apenas o bruxulear de uma mancha dourada, como um halo em vias de se desvanecer, no alto de cada poste. Voltei para a cama, um tanto aturdido pelo sono e agora atordoado pela consciência que avançava entre a embriaguez dissipada. Fechei os olhos, mas não por muito tempo: o sono mais latente foi afastado para longe de mim por gritos e urros de jovens que ainda se arrastavam pelas vielas da cidade. Lembrei-me de quando estivera entre eles, ainda há pouco, e voltei o corpo na direção de Elise.
          Para o meu espanto, ela, provavelmente mais acostumada a temperaturas negativas, estava coberta apenas até a cintura. Deitada com as costas voltadas para mim, eu podia observar como a linha da espinha dorsal era a única forma nítida que se desenhava na penumbra dourada – penumbra esta que era um ardor primeiro filtrado pela vidraça esfumada e depois diluído pelas cortinas brancas. Era provável que amanhecesse pois, no instante seguinte, a sua espinha dorsal era de uma precisão tão implacável, tão arrebatadora que, malgrado o medo de acordá-la, aproximei o meu rosto de suas costelas, que iam e viam ao sabor da respiração. Da carne se emanava a doçura do perfume que, repisado pelo suor, irradiava-se pelos lençóis. Quase me sentido parte do silvo que também estremecia a penumbra quando ela expulsava o ar de seu corpo, beijei o exato ponto em que a espinha dorsal alcança a base do crânio.
          Elise serpenteou na cama, mas não o suficiente para que ela deixasse de me dar as costas. Sem voltar a tocá-la, fechei os olhos e tentei dormir, mas o silvo de sua respiração, à exemplo do que acontecera com o contorno de sua espinha dorsal, era de uma nitidez crescente e exaltada - como se o seu corpo não fosse sequer sombra de uma consciência adormecida, ou melhor, como se o seu corpo fosse um lume que, para manter a ardência, precisava ser tocado, trespassado. O sono não veio. Passei a me dedicar ao seguinte exercício mental: esvaziar a consciência para nela desenhar a voz, os olhos, o formato dos seios, o gosto da boca de Elise, sendo que tudo se demonstrou falho por haver se dissipado no éter da embriaguez. Lembrava-me apenas que os olhos pareciam chorar, que ora o rosto era chicoteado pela extrema palidez, ora se afogueava. Então por que, nessa atmofera de cegueira e amnésia, havia a sensação de uma terceira presença no quarto, e essa terceira presença eu só conseguia definir como o amor ou a sua possibilidade, também um lume que se exaltava para mim, ansiando ser atravessado, tornando-se mais santo na medida em que eu o refutava como algo maligno (ou pelo menos pueril) e mais impuro na proporção em que um desejo de comunhão começava a se formar. De súbito, todo o quarto era constituído por existências frementes: a luz que debalde tentava romper a opacidade dos vidros, a linha da coluna dorsal ondulando-se e desenhando-se contra o amanhecer, cada fonema do nome de Elise, tudo significando mistério e impossibilidade, perda e febre. Não demorou muito para que eu, tornado exausto pelas rarefeitas consequências de meu pensamento, voltasse a adormecer.

***

          Apenas eu e Elise ocupávamos a cabine do trem. Ela estava sentada diante de mim, com as costas voltadas para o destino percorrido, de modo que o sol matinal incidia contra a sua face, e a paisagem, vista em contraste com o seu corpo, avançava como fosse um filme cujas cenas eram rodadas de trás para frente.
          É a primeira vez que vou a um cemitério de judeus, eu disse para que não houvesse silêncio.
          É um lugar bonito, respondeu Elise e, cansada, recostou-se na poltrona. Olhei pela janela. Para além do vidro tornado ofuscante pela incidência do sol, percebi que havíamos ultrapassado os bairros históricos e agora rompíamos os arrabaldes em direção ao interior, entre indústrias e usinas. Logo o trem alcançou a ponte que demarcava o limite entre a feiúra féerica da cidade e o que vinha depois. As águas do rio, que também espelhavam a manhã, dobraram a cegueira a que eu havia sido lançado pelos reflexos da luz contra os olhos. Finda a ponte, o interior da cabine ensombreceu quando o trem foi cercado por uma vegetação cuja ramagem vivia o imediato momento precedente à queda outonal, a última predominância do verde sobre amarelo e o vermelho. Depois, e não sei por quais mecanismos mentais alcancei essas reminiscências, relembrei as palavras de uma antiga namorada sobre a notícia de um homem que, acossado, atirara contra o próprio peito. Por que o coração?, eu indaguei à epoca, ao que ela me disse: É de lá que vinha a dor – opinião que passei a partilhar ao perceber que, durante os meus estados de espírito mais inconciliáveis (sentimento também presente em algumas alegrias, sem que eu pudesse precisar qual fora o catalisador dessa reação), tudo o que eu sentia convergia para uma inquietação puramente física na região da cabeça, sendo que noutras vezes a sensação era a de ferro esbraseado que me trespassava o peito, e então vinha uma idéia de sangramento, de cicatriz funda e mal curada que o próprio ar se tornava escasso.
          E esse retesamento dos músculos cardíacos foi justamente a sensação física predominante durante a viagem. Eu fitava Elise, o cabelo caído sobre o rosto claro, a plácida e quase imperceptível ondulação do corpo, o dulçor das palavras mais banais pronunciadas entre hiatos de sono. Ora queria voltar a beijá-la, ora queria revisitar a exaltação do corpo aberto (as róseas coroas dos seios como águas vivas), ora queria que ela apenas ouvisse as minhas palavras. Uma mulher nova, eis o que Elise era, e uma mulher nova é como uma estação nova, como uma maçã tornada subitamente doce e rubra no curso de uma única aurora e que só pode ser apanhada naquele enrubescer, pois no seguinte volta à terra, arde na terra, desmacha-se na terra. Tudo isso assomava-me ao peito, e então eu percebi que dentro de mim, também fisicamente, havia aquela terceira existência pressentida no quarto durante o amanhecer, algo que não pertencia a mim mas que buscava se tornar parte de mim, algo que só se integraria a mim após reordenar a própria disposição das minhas costelas, pois uma mulher nova demanda um homem novo e talvez por isso uma mulher nova seja tudo o que não se pode ter.

***


          Você parece um deles, disse Elise, com um sorriso pueril e suave, ela que caminhava ao meu lado e então acelerou o passo, mas não muito. Ainda podíamos conversar como se estivéssemos ombro a ombro.
          Um morto?
          Um deles, e com a cabeça indicou um grupo de judeus, quase todos trajados com ternos escuros, que caminhavam entre as pedras. É o seu nariz. Ele é feio, grande, e o cacheado do cabelo. Se você usasse um kippah todo mundo pensaria que o seu tataravô morreu aqui.
          Não, os narigudos feios que foram os meus tataravós estão enterrados em outros lugares, deus sabe onde.
          E você?, tornei a falar e apressei o passo na tentativa de alcançá-la, justo quando o caminho estreitou porque uma família parou para fotografar flores que amarelavam entre as pedras.
          E eu?
          O castanho dos seus olhos olhos veio de alguns desses mortos?
          Não, acho que não, disse Elise no instante em que a alcancei. Havia uma tentativa de riso em seu rosto, que sofria uma reação peculiar sob o ataque do vento: primeiro as faces empalideciam, depois vinha algo como um isolado e resplandecente emergir sanguíneo em cada um de seus poros. Assim, o rosto parecia queimar ao contato de uma pureza diáfana. Voltei a mirar os olhos de Elise, que, ao acentuarem a jovialidade de cada palavra dita por ela, agora tremulavam como um estandarte que, em renovada exaltação de si próprio, fora erguido no cimo mais alto do que parecia ser a alegria, pois sim, o que inflamava as suas pupilas era algum jubiloso estado de espírito.
          Mas eu poderia ter sido um deles, ela disse olhou na direção das pedras e dos homens que as cercavam.
          Um deles como eu?
          Eu já sou como você, ela disse com um sorriso e voltou a acelerar o passo, assumindo uma dianteira cuja distância impossibilitava qualquer conversa e desviando-se das pedras tumulares por um atalho que corria entre árvores que formavam um túnel, coando a luz solar. A aurora fria e orvalhada deixara sinais na terra, ainda úmida, quase lamacenta, e nas folhas de um castanho quase carmim que, caídas no chão, pegavam-se uma às outras, também molhadas. Era um caminho em aclive que terminava no alto do que parecia ser um castelo.
          Por que ontem você foi beber? Agora estávamos no ponto mais alto do vilarejo, perto daquela construção que, então percebi, era um mausoléu. Em determinado momento, do interior do palácio passaram a sair homens, mulheres, crianças, com nova predominância do negro entre os trajes. Eles desciam na direção das pedras.
          Era a minha primeira noite de sexta na cidade e eu não sabia que voltaria a me sentir tão solitária, a resposta de Elise veio num tom murmurante, mas esvaziado de comiseração.
Agora não se sente mais solitária?, e com a pergunta eu aludia – ainda que fosse uma alusão apenas percebida por mim – aos pensamentos e sentimentos que eu tivera durante a noite, agora percebendo, na altura do peito antes trespassado por ferro em brasas, um medo que se revelava como um repentino tremor seguido por uma sensação de esvaziamento e vertigem.
          Ainda está claro. Você olha lá para baixo e sabe quem está vivo e quem está morto, mas é sempre difícil, sim, é sempre difícil. Eu queria mirar os olhos de Elise, perceber como eles tremulavam, mas ela tinha o rosto voltado na direção do vilarejo, na direção da procissão que, saída do mausoléu, serpenteava entre as altas pedras tumulares, um cortejo escuro, silencioso, muitas vezes quase sumindo na luz que, feita oblíqua pelas muitas árvores que cercavam o cemitério, adquiria uma vibração ofuscante.
          Eu sou como você, costumo dizer quando vou gostar de alguém, e então Elise abandonou o muro. Venha, vamos. Mas olha só, também digo isso quando vou deixar de gostar de alguém, explidou em tom de brincadeira, os olhos ainda um bandeira tremulante no cimo do que parecia ser a alegria.
          A tristeza – pois a possibilidade do amor, e aqui defino essa possibilidade como algo que clareia todos os átomos do dia e contorna cada sombra noturna, era como rir, e rir genuinamente, e a todo momento perceber as muitas ameaças que recaem sobre esse riso – apenas surgiu no final do passeio, quando nos encontrávamos na estação ferroviária. Tanto ao leste quanto ao oeste, e tal fora o sonambulismo com que havíamos chegados àquele vilarejo que não sabíamos de onde viéramos, os trilhos sumiam numa vegetação à princípio rasteira, mas que, naquele ponto limite alcançado pela visão, adensava-se de árvores altas. A própria estação, que nada mais era do que uma ilha entre os trilhos, era de um abandono comovente: as paredes de azulejo branco estavam todas encardidas, muitos dos bancos onde os viajantes podiam esperar estavam quebrados, as bilheterias estavam fechadas e apenas um homem sujo, enclausurado no interior de uma casa de latão, vendia cerveja quente e refrigerante para quem lá chegasse. Vagões enferrujados jaziam no pátio contíguo à estação. No alto, um emaranhado de fios fraturava a visão do céu.
          No início, esperávamos sozinhos, em dúvida sobre a possibilidade do último trem já ter partido. Subitamente, também como um cortejo, jovens chegavam pela estrada que descia em direção à estação ferroviária, todos eles estrangeiros, e também os homens vestidos de negro que haviam caminhado por entre as pedras. Era doloroso imaginar que a morte havia trazido tantas pessoas para tão longe. O ar das cinco horas enegrecia, antecipando o anoitecer, enquanto o frio estalava cada vez mais forte na vegetação ao redor. Respirava-se e via-se um halo de vapor sumindo a poucos metros do próprio rosto. Cansada do passeio, Elise esperava com a cabeça pousada em meu ombro. Eu queria voltar a beijá-la.
          Um silvo metálico e agudo, sobreposto por outro silvo da mesma natureza, determinou o fim da espera. Tanto do leste quanto do oeste, com uma velocidade constante, em fantasmagórica sincronia, chegavam trens à estação.
          Qual deles é? Elise não soube responder. Pronunciei o nome da cidade para onde queríamos voltar para as pessoas próximas de nós, mas também elas estavam confusas. Um grupo maior passou a se dirigir a determinado trem, e quantas mais pessoas andavam na direção desses vagões, mais pessoas as seguiam. Apenas quando muitos já haviam embarcado, veio a informação – surgida não sei de onde, cuja veracidade era de impossível verificação – de que aquele era o trem errada, e então teve início uma corrida desordenada na direção do outro trem. Novos silvos agudos e metálicos anunciaram que logo as máquinas se colocariam em movimento, e então a balbúrdia e a urgência aumentaram ainda mais, tudo significando fuga, um desejo forte e alucinado de passar a noite longe daquelas pedras, daquele mausoléu, numa repetição macabra do que já poderia ter acontecido naqueles campos durante os grandes, os monstruosos massacres.
          Desta vez não conseguimos, Elise e eu, ocupar uma cabine vazia. A luz branca, que ardia no teto da cabine, ao incidir sobre os vidros da janela, criava um borrão de luz que não permitia uma visão clara das paisagens pelas quais passávamos. Não havia nenhuma certeza a respeito de estar no caminho certo, mas sim, havia uma dolorosa certeza sobre a inevitabilidade do retorno. Sentado muito próximo de Elise, eu sentia o seu corpo respirar. Aquela sensação de ferro pesando sobre o coração se mudara num desconforto na região da garganta, como sempre acontece quando qualquer emoção se transforma na angústia de um rio aprisionado. As luzes da cabine se apagaram e lá fora as paisagens ganharam nitidez. Lembrei-me da consciência do amor enquanto algo que clareia o dia, contorna as trevas noturnas, e de como esse sentir nunca deixava de ser ameaçado pela probabilidade – que em que nada perdia para as chances de vitória – de sua própria inutilidade.